Um feminismo masculino? Cultura material e a construção da feminilidade crossdresser no Journal of Male Feminism (EUA, 1977-1980) | Maria Cecília Ferreira

Maria Cecília Ferreira
Mestranda em História pela Universidade de São Paulo
São Paulo, Brasil
mceciliaprojects@gmail.com

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Resumo

Este estudo investiga o Journal of Male Feminism (1977-1980), periódico estadunidense voltado a travestis brancas de classe média, situando-o no contexto do feminismo de “segunda onda”. Com base nos estudos feministas e nos de cultura material e visual, examina como a publicação contestou concepções naturalizadas de masculinidade e de feminilidade por meio de relatos autobiográficos e fotografias. Argumenta-se que, embora tenha antecipado discussões centrais para o transfeminismo, o JMF também reproduziu valores burgueses e normas heteronormativas. A análise de editoriais, propagandas e depoimentos evidencia tanto a dimensão performativa do gênero quanto o papel dos artefatos culturais na construção de identidades dissidentes. Conclui-se que, não obstante suas ambiguidades, o periódico oferece uma contribuição significativa para repensar a história do feminismo, revelando como práticas cotidianas, objetos e materialidades negociam e desestabilizam as fronteiras tradicionais entre masculino e feminino, proporcionando uma compreensão mais complexa da construção identitária.

Palavras-chave: cultura material; gênero; transfeminismo; crossdresser; feminilidade.

Abstract

This study investigates the Journal of Male Feminism (1977–1980), a U.S. periodical directed at middle-class white crossdressers, situating it within the context of second-wave feminism. Drawing on feminist studies as well as material and visual culture, it examines how the publication challenged naturalized conceptions of masculinity and femininity through autobiographical accounts and photographs. It is argued that, while anticipating key discussions in transfeminism, the JMF also reproduced middle-class values and heteronormative norms. Analysis of editorials, advertisements, and testimonies highlights both the performative dimension of gender and the role of cultural artifacts in shaping dissident identities. It is concluded that, despite its ambiguities, the periodical offers a significant contribution to rethinking feminist history, revealing how everyday practices, objects, and materialities negotiate and destabilize traditional boundaries between masculine and feminine, thereby providing a more nuanced understanding of identity construction.

Keywords: material culture; gender; transfeminism; cross-dresser; femininity.