María Lugones e o feminismo decolonial: poder, raça, gênero e ciscolonialidade

Maya Maia de Paiva
Bacharela em Filosofia (FFLCH/USP)
São Paulo, Brasil
maia.paiva@usp.br

Baixar texto completo

Resumo

Este trabalho tem como foco o pensamento de María Lugones, filósofa argentina e teórica da resistência fundamental para feminismo na América Latina. Ela mobiliza em sua teoria a crítica decolonial latinoamericana aliada às teorias e práticas feministas das pessoas de cor que habitam as fronteiras da ferida colonial. A noção de Colonialidade do Poder articula capitalismo, modernidade eurocêntrica, raça e colonialidade como uma ferramenta de análise crítica do poder global, no entanto, para a filósofa, esta teoria é incapaz de reconhecer a artificialidade do gênero da mesma forma que reconhece a raça como uma “ficção em termos biológicos”. Nesse sentido, Lugones propõe analisar a colonialidade do gênero pensando nesse poder como um sistema moderno-colonial de gênero e, a partir daí, aponta para o feminismo decolonial como uma prática de resistência a esse sistema. O pensamento de María Lugones nos permite ainda pensar em uma ciscolonialidade, ao aliá-lo à produção transfeminista de viviane vergueiro que reivindica a necessidade de nomear a norma cisgênera como estratégia de desnaturalizar o gênero em si e evidenciar suas violências.

Palavras-chave: gênero, raça, colonialidade do poder, feminismo decolonial

Abstract

This work focuses on María Lugones’ ideas, an Argentine philosopher and resistance theorist key name to feminism in Latin America. She combines in you philosophy Latin American decolonial theory and feminist theories and practices of people of color who live on the borders of the colonial wound. The notion of Coloniality of Power articulates capitalism, Eurocentric modernity, race and coloniality as a tool for critical analysis of global power, however, on the philosopher’s view, this theory is unable to recognize the artificiality of gender in the same way as it recognizes race as a “fiction in biological terms”. In this sense, Lugones proposes to analyze the coloniality of gender by thinking about this power as a modern-colonial gender system and from there on she points to decolonial feminism as a practice of resistance to this system. María Lugones’ thoughts also allows us to think about ciscoloniality, by combining it with viviane vergueiro’s transfeminist production that claims the need of naming the cisgender norm as a strategy to denaturalize gender itself and to emphasize its violences.

Keywords: gender, race, coloniality of power, decolonial feminism.